TRÊS
RÉPLICAS EM CONFRONTO
Reprodução
da reportagem de Claudio Carsughi, publicada originalmente
na revista Quatro Rodas, número 214, de maio de 1978.
Fotos de Heitor Hui.
Três
apaixonados do automobilismo resolveram há algum tempo
acrescentar a seus ramos de negócio um novo produto:
réplicas de carros antigos que marcaram época.
Surgiram assim o Alfa Romeo P3 Monza, de 1931, fabricado pela
L´Automobile com mecânica de Brasília;
o MG TD, de 1952, também com mecânica de Brasília,
fabricado pela Lafer; e o MG TF, de 1953, fabricado pela Avallone
com motor de Chevette.
Quatro
Rodas resolveu então testá-los comparativamente.
E concluiu que eles não são carros para serem
usados como meio de transporte comum e sim fins de semana
e passeios curtos.
Outro
ponto comum entre os três está no tipo de carroceria:
conversível, de dois lugares e capota de lona, além
de ser constituída com fibra de vidro em vez de chapa
de aço, o que faz baixar os custos numa produção
em pequena escala.
Pouco
conforto
Não
se poderia esperar que carros conversíveis construídos
a partir de modelos tão antigos oferecessem grande
conforto. O Alfa, por conseguinte, tem banco inteiriço,
fixo, oferecendo ao motorista a posição de dirigir
típica da época, com o peito reto e os braços
dobrados.
No Avallone,
a perna esquerda não tem como fugir dos limites do
pedal de embreagem. Além disso, os bancos têm
desenho ruim - altos nas laterais e fundos no meio -, solução
encontrada para segurarem o corpo, compensando a falta de
espaço. Os bancos do Lafer, ao contrário, são
os mais confortáveis e dispõem de encosto reclinável.
Nesse carro, o maior problema para quem o dirige é
acionar os vidros laterais com ele em movimento, pois para
isso é necessário usar as duas mãos.
É
preciso considerar, no entanto, que todas essas dificuldades
- a maioria decorrente do projeto original - fazem parte do
tipo de utilização a que se destinam.
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O
Avallone, com motor dianteiro, oferece melhor estabilidade.
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Grau
de fidelidade
A fidelidade
à mecânica original, no caso do Alfa e do Lafer,
não existe, já que os dois adotam motor Volkswagen
traseiro. Já no Avallone essa semelhança foi
respeitada: o motor de quatro cilindros em linha do MG TF
foi substituído por outro de quatro cilindros em linha
- como é o do Chevette -, com colocação
dianteira e tração nas rodas traseiras.
Quanto
à carroceria, a do Alfa e a do Avallone são
as mais fiéis, utilizando até elementos falsos,
como as tampas do radiador e do tanque de gasolina no caso
do Alfa e só a tampa do radiador no caso do Avallone.
Nesses dois carros testados, as cores da pintura também
reproduziam com fidelidade as originais: o Alfa com seu tradicional
vermelho, e o Avallone com um verde bem inglês, que
combinava com a capota do carro.
A carroceria
do Lafer, por sua vez, difere da original pela utilização
dos pára-choques semelhantes aos impostos pela legislação
de segurança dos EUA, e pelas luzes de sinalização,
no alto dos pára-lamas, iguais às da linha Volks.
Além disso, a solução encontrada para
que os vidros laterais pudessem vedar melhor o interior, provocou
alteração no perfil do carro. A sigla TI, desenhada
de forma moderna, também destoa.
Como
andam
O Avallone
testado tinha um motor opcional de 1.660cm³, enquanto
os outros dois utilizavam o normal da Brasília, de
1.584cm³. Mas apesar desse aparente equilíbrio
na cilindrada, o Avallone apresentou desempenho nitidamente
superior, devido, entre outras coisas, à utilização
de dois carburadores Weber, de duplo corpo, e à elevação
da taxa de compressão para 8,8:1. Essas modificações
entretanto, o obrigam apenas a consumir gasolina azul. Ele
alcançou a velocidade máxima de 142,715 km/h,
contra 134,454 km/h do Lafer e 130,909 km/h do Alfa.
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As
linhas do Alfa Romeo são as que mais chamam a
atenção.
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Aceleração
Na aceleração
de 0 a 100 km/h, o Avallone gastou 14,40 segundos, contra
16,23 do Lafer e 17,10 do Alfa. Para completar o quilômetro
o Avallone gastou 35,50 segundos contra 37,50 segundos do
Lafer e 38,16 segundos do Alfa. Finalmente, na retomada de
velocidade, com o câmbio em quarta marcha, o Avallone
fez de 40 a 100 km/h em apenas 16,98 segundos, contra 27 segundos
do Lafer e 27,68 segundos do Alfa. Além das marcas
é necessário avaliar a estabilidade que os carros
oferecem para eventualmente serem utilizados perto de seus
limites. Mas também sob este aspecto o Avallone, por
ter melhor distribuição de pesos, transmite
maior segurança. O Alfa e o Lafer, ao ciontrário,
apresentam a tendência sobresterçante característica
dos carros Volkswagen com motor traseiro.
Quanto
aso freios, com os três utilizando o mesmo sistema de
disco nas rodas dianteiras e tambor nas traseiras, o Avallone
e o Lafer obtiveram resultados semelhantes, enquanto o Alfa,
pela falta de peso na frente, desvia-se facilmente da trajetória
original, obrigando o motorista a tomar mais cuidado.
Consumo
Para quem
quer um carro desse tipo, o gasto com combustível passa
a ser secundário. De qualquer forma, o Alfa mostrou
ser o mais econômico, com a média pelo sistema
Quatro Rodas de 11,17 km/litro, o Lafer fez 10,86 km/litro
e o Avallone 10,00 km/litro, com a desvantagem ainda de só
utilizar gasolna azul. Na estrada, andando normalmente, o
Alfa fez 11,61 km/litro contra 11,23 km/litro do Avallone
e 10,67 km/litro do Lafer.
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Lafer
TI: Menos fiel ao orginal, porém mais confortável.
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Conclusão
Entre
pontos positivos e negativos, pode-se dizer que os três
atendem à finalidade para qual foram criados, isto
é, a de dar oportunidade a certos motoristas de terem
um carro bem diferente, capaz de atrair as atenções
gerais. Alfa e Avallone são os que melhor reproduzem
o desenho dos carros que os inspiraram, com ligeira vantagem
para o Avallone. O Lafer, por sua vez, tem a vantagem de ser,
dos três, o mais confortável.
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