PROTÓTIPO DO MP: IMPRESSÕES AO DIRIGIR

Em março de 1974, na sua edição de número 164, a revista Quatro Rodas publicou um artigo de Expedito Marazzi (com fotos de Pedro Henrique), intitulado “MP Lafer: muita emoção a 120 km/h”, na seção “Impressões ao Dirigir” - o que não era considerado um teste completo, mas um relato pessoal sobre o veículo em questão. O protótipo, provavelmente construído ainda em 1973, possuía alguns itens diferenciados da versão que estava prestes a ser lançada no mercado. Leia, a seguir, o texto condensado, 29 anos depois:

Quando o pequeno automóvel parou no posto de abastecimento, o homem da bomba, atrapalhado, não queria acreditar que a boca do tanque de gasolina estivesse no tampão do radiador (em relação aos carros convencionais). Depois de alguma resistência ele encheu o tanque de gasolina e, antes do carro andar novamente, resmungou: “Esses carros malucos”.

O MP Lafer é a primeira tentativa brasileira de construção de uma réplica, e baseia-se no famoso MG TD inglês de 1950 a 1952. Os responsáveis por esse projeto, o Grupo Lafer, fabricante de móveis e artigos de vidro, como as cabinas de telefone público (orelhões), apresentou seu primeiro protótipo no último Salão do Automóvel, em novembro de 1972. E agora começou a produzi-lo em pequena escala.

 

A réplica no Brasil é uma novidade. Na Europa e Estados Unidos, porém, isso é comum. O Excalibur, por exemplo, teve como modelo o Mercedes SS-K, famoso nos anos 30. A réplica é um carro mecanicamente atualizado, mas que conservam a beleza das linhas que fizeram do carro original um clássico. Ela pode fazer concessões para melhorar a segurança, o conforto e, em certos casos, o desempenho. Essas cópias não são ilegais, pois não infringem leis que preservam as patentes industriais.

O MP Lafer

O MP Lafer tem como base o MG TD, cujo desenho já é de conhecimento público. E quando o carro da Lafer esteve exposto no Brasil Export, em Bruxelas, os brasileiros tiveram ainda a satisfação de receber os elogios do pessoal da MG, pela perfeição com que sua réplica havia sido executada.

O carro foi feito a partir da plataforma e um conjunto mecânico do Volkswagen 1 500 conservados no original. A carroceria porém é de fibra de vidro e resina de poliéster, dividida em duas partes. Depois são unidas entre si e, finalmente, à plataforma. A espessura da carroceria, para evitar rachaduras, chama a atenção e os fabricantes argumentam que isso é importante para dar mais resistência à carroceria. Por isso o peso do carro aumenta, mas continua sendo mais leve que o VW 1 500.

O motor do MP Lafer é o 1 500, de carburador simples, mas há espaço para dupla carburação e qualquer outra espécie de veneno que desejar o seu proprietário. As portas do protótipo são originais, abrindo como a dos primeiros Vemag. Mas, para cumprir as leis de segurança da Europa (para onde deverá ser bastante exportado), a Lafer já decidiu modificar o sentido da abertura, além de adaptar-lhes vidros que poderão ser também retirados. O carro que Quatro Rodas testou ainda usava janelas de plástico fixadas com parafusos. De longe ele parece com o MG, mas uma olhada mais cuidadosa denuncia medidas diferentes: o MP lafer é mais alto e mais largo.

O interior

Ao contrário do que acontecia com o MG, quando se entra no Lafer sente-se que há bom espaço e conforto. Os bancos, indivduais e anatômicos, podem ser regulados na sua distância dos pedais. O painel de instrumentos tem a forma do original, com o recorte duplo que servia para a retirada do pára-brisa e a colocação de outros dois pequenos pára-brisas individuais para competições.

O volante esportivo, marca Panther, não chega a ser bonito, nem bem acabado. Sua posição é quase vertical (característica do carros ingleses), mas é funcional, ficando bem as mãos do motorista. Os pedais são os do Volkwagen, mais recuados cerca de 20 cm. A alavanca de câmbio também é a do VW, mas é mais curta e está mais recuada, fazendo com que, num movimento natural de retirar a mão do volante, o motorista encontre a alavanca imediatamente. Em compensação, o freio de mão, embora recuado, ficou quase que totalmente encoberto pelo painel, dificultando um pouco seu uso. A alavanca original do MG TD ficava entre os dois assentos (que, apesar de serem individuais, tinham um encosto comum) e a trava funcionava ao contrário: quando se puxava e soltava a alavanca, ela acionava os freios e voltava automaticamente à posição não freada. Para ficar travada era preciso apertar o pino-trava da alavanca.

Andando

O ruído do motor identifica a sua marca Volkswagen. De saída nota-se que faltam cavalos para que o carro ande de acordo com o que se espera. Não tem muito torque e leva tempo para ganhar velocidade. Com certo exagero, o velocímetro marca 200 km/h. O carro conseguiu atingir os 120 km.

Notou-se também que ele atinge velocidades diferentes, conforme esteja: 1º) com a capota e janelas – 113,574 km/h; 2º) sem capota, mas com o pára-brisa levantado – 109,423 km/h; 3º) sem capota e com o pára-brisa baixado – 116,319 km/h.

Durante os 800 km percorridos em nossas “Impressões ao Dirigir”, sempre acelerando bastante, o motor não deu mostras de superaquecimento (apesar do motor ficar bem escondido na parte traseira e suas entradas e saídas de ar, aparentemente, serem insuficientes). A aceleração é pequena. Para atingir 1000 metros, partindo-se da imobilidade, leva-se 42,5 segundos. Mas ele tem a vantagem de ser econômico na estrada, pois fez uma média de 9 km por litro. Nas condições de um teste, onde o acelerador está sempre embaixo, a média pode ser considerada boa.

Sua estabilidade não é má. O acumulo de peso no eixo traseiro não chega a comprometê-la. Respeitadas suas características, o carro não oferece surpresas desagradáveis.

Freios

A plataforma escolhida do Volkswagen tem freios a disco dianteiros opcionais. No entanto, devido ao relativo pequeno peso nas rodas dianteiras, o MP não pára em espaços muito curtos quando freado em situação de emergência.

E tanto a estabilidade como a capacidade de frenagem do MP diminuem à medida que de gasolina vai se esvaziando. Este é um dos problemas que os tanques de combustível criam quando não são colocados no centro de gravidade do automóvel: quando cheios ajudam, mas ao esvaziarem prejudicam um pouco.

Enfim a réplica do MG TD, é realmente elogiável. Além disso a execução da parte de fibra de vidro é de um nível tão bom que superou todos os carros nacionais feitos do mesmo material. Alguns detalhes no seu interior, como no painel, poderiam ter ficado mais próximos do modelo original.

Mas o carro agrada, tanto aos saudosos fãs do MG inglês como também aos jovens que, se nunca chegaram a ouvir falar do original da década de 50, certamente terão muito a dizer sobre esta réplica produzida agora no Brasil.

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