Artigo
publicado originalmente na Revista Oficina Mecânica em
abril de 2003, número 199, páginas 62 a 65, com
o título “Para inglês ver”. Texto de
Rogério Ferraresi e fotos de Mario Villaescusa. O MP
vermelho, retratado a seguir, pertence a Romeu Nardini, diretor
de promoções do Clube MP Lafer Brasil.
MP:
RÉPLICA VIRA CLÁSSICO NACIONAL
Em
1972, Percival Lafer decidiu fazer um carro fora-de-série.
A Lafer fabricava móveis, contava com um amplo
espaço físico, muitos funcionários
e tradição no manuseio de fibra-de-vidro,
pois – como a Glaspac – construía
os “orelhões” da Telesp. Em lugar
de fabricar um carro esporte, que já tinha concorrência,
Percival decidiu-se pelas réplicas. O problema
era encontrar o veículo que seria base do projeto.
A resposta veio através de João
Arnaut, funcionário da própria Lafer.
No
aniversário da esposa (Ivone), Arnaut
a presenteou com um MG TD 1952. Certo dia foi com ele
até a Lafer e, no estacionamento da empresa,
Percival viu o esportivo inglês e teve a idéia
de copiá-lo. Começava a história
do MP. O arquiteto formou uma pequena equipe, que desmontou
o MG e fez os moldes da carroceria. Logo depois veio
o protótipo MGT 1973, com a mecânica do
Fusca 1500, exposto no Salão do Automóvel
de 1972, onde fez tanto sucesso quanto os novos Ford
Maverick e Dodge 1800.
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Na época,
Lafer contatou a MG, obtendo licença para produzir
a réplica. Em 1973, o primeiro MP seguiu para Bruxelas,
na Bélgica, onde foi exposto na feira Brasil Export.
Em maio de 1974 as primeiras unidades, todas encomendadas,
começaram a ser entregues no Brasil. A carroceria do
MP Lafer era moldada em duas partes, direita e esquerda, para
posteriormente ser laminada. Isso era importante para dar
maior resistência ao conjunto.
Nas primeiras
unidades, as portas abriam ao contrário, como no MG
original. Mas por segurança esta característica
foi abandonada. Na mecânica, foram adotados freios a
disco na dianteira, enquanto os pedais VW eram recuados em
cerca de 20 cm. O mesmo ocorria com a alavanca de câmbio
e do freio de mão: no MP o motorista sentava-se onde,
no Fusca, ficava o banco traseiro.
Com motor
de 1500 cc e 52 cv – carburação simples
– o MP Lafer desenvolvia cerca de 115 km/h. O incrível
era a distribuição de peso: dos 772 quilos que
os primeiros carros pesavam com tanque cheio, apenas 318 kg
eram aplicados nas rodas da frente.
Após
40 unidades produzidas, o MP passou a utilizar o motor do
Brasília, de 1600 cc. Mas o chassi do Fusca foi mantido.
Assim equipado, e com dupla carburação, passou
a desenvolver máxima em torno de 122 km/h. Houve a
tentativa de usar o motor do Fusca 1600-S, mas, devido a problemas
de fornecimento, isso não foi possível. No final
de 1975 já haviam sido comercializadas 110 unidades,
três delas para o Japão e Estados Unidos. No
ano seguinte, dos 371 carros construídos, 12 foram
exportados.
De
cinema
Em maio
de 1977, chegou a versão TI. Não tinha cromados
do MP e as peças eram pintadas na mesma cor da carroceria,
incluindo pára-choques, que nesse carro eram de fibra-de-vidro.
O TI passou e representar 15% da produção, mas
o mercado internacional não o aprovou, preferindo o
MP tradicional.
Uma curiosidade
é que a réplica apareceu no filme “007
Contra o Foguete da Morte”. O agente secreto, vivido
por Roger Moore, recebia em Copacabana a ajuda de uma bela
espiã, cujo carro era um MP Lafer branco. Após
as filmagens, o veículo foi para a Inglaterra.
Outra
curiosidade envolve Jô Soares. Ele encomendou um MP
para a atriz Silvia Bandeira – na época Silvia
Falkenburg – e, ao especificar a cor do veículo,
teria levado à fábrica um sutiã da futura
proprietária. Segundo Percival, a história é
fantasiosa, pois Jô só teria fornecido uma embalagem
de sabonete que apresentava um tom rosa. Verdade ou não,
a primeira versão é muito mais interessante...
Mudanças
Em 1978,
o MP sofreu modificações. Perdeu alguns cantos
vivos que, devido á torção, possibilitavam
trincas. As falsas saídas de ar dianteiras, moldadas
no “nariz”, passaram a ser feitas em separado.
Em 1979, os bancos ganharam encostos reclináveis e,
em 1981, as maçanetas especiais foram substituídas
pelas do Passat. As rodas de liga-leve deram lugar, em 1985,
a um modelo raiado da Mangels. Nessa época começaram
a surgir várias cópias do MP – como Sto.
Tropez, Agnus, Pantera e Enseada – a maioria delas vendidas
em kits. Mas a fabricação do próprio
MP passou a ser desvantajosa, sendo encerrada em 1988.
Apesar do desaparecimento, o MP continua com muitos admiradores.
Prova disso é o Clube MP Lafer Brasil, que fica em
São Bernardo do Campo (SP).
MP
“AP”
A
meta era inovar e a Lafer construiu um chassi
especial, que ainda mantinha a suspensão
do Fusca. Mas a grande surpresa estava reservada
para a dianteira: onde ficava o tanque, montou-se
o motor VW AP 1.6, mas o câmbio continuava
a ser do Brasília, instalado no eixo traseiro.
Para transmitir a rotação do motor
para as rodas, utilizava-se um carda, arranjo
semelhante ao do Gurgel Carajás. Mas devido
a complexidade técnica e aos altos custos,
o protótipo não foi para frente.
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