Para
comemorar o primeiro ano do MP Lafer hpG no ar, extraímos
de nosso arquivo um artigo de Expedito Marazzi, publicado
originalmente na edição de número 44
da Revista Quatro Rodas, em março de 1964, abordando
uma breve história da famosa marca MG, da qual deriva
o início da produção em série
do MP, dez anos depois!
Reprodução da capa em questão.
MG:
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
O Sr W.
Morris produzia na Inglaterra pequenos carros. "Morris
Garages" era o nome do estabelecimento e os negócios
iam de vento em popa. Cecil Kimber ocupava o cargo de gerente
da organização e era louco por automóveis
de desempenho esportivo. Supomos que, como seu ordenado não
fosse lá grande coisa, estava fora de cogitações
a compra de um carro de alto preço, como Duesenberg,
Alfa Romeu, Bugatti ou qualquer outro monstrinho daqueles
tempos, capaz de satisfazer à sua gana de velocidade.
Que fez
o Sr Kimber? Envenenou um pequeno Morris, aliviando-o de todo
peso inútil. Balanceou a árvore de manivelas,
poliu os coletores de admissão e escape, adaptou um
carburador vitaminado, um comando mais quente e substituiu
o distribuidor por magneto. Além disso, fez uma carroçaria
de madeira revestida com lona, para dois lugares apenas e...
saiu estourando por lá, em 1923.
O sucesso
foi imediato. Estrondoso. O carrinho era tão nervoso
e veloz, que o próprio Sr. Morris interessou-se em
produzí-lo, embora em pequeno número. Aliás,
esse cidadão sabia a quantas andava. Tanto que se tornou
lider de um dos maiores complexos industriais europeus.
Batismo
de fogo
O recém-nascido,
na falta de melhor batismo, adotou as iniciais da empresa
- MG. De saída venceu um concurso de robustez (pouco
infantil) quando, em 1923 mesmo, competiu na "Land´s
End Trial", desenvolvendo 135 Km/h - um assombro para
a época e para a sua categoria.
Três
anos depois, a procura dos MGs suplantava de longe a produção.
E isto se justificava: com um custo inicial baixíssimo
- cerca da quarta parte do preço normal dos carros
mais potentes - o MG estava apto a proporcionar as mesmas
sensações, privativas dos multimilionários,
oferecidas pelos caríssimos carros esportivos clássicos
de então.
Em 1928,
surgiu o primeiro modelo da série Midget, que se tornou
famosa mundialmente. Sua capacidade, de 850 cc, foi ainda
mais reduzida, tempos depois, para 750 cc, menor portanto
do que muita motocicleta. O importante não era o acúmulo
de HP - cujo total não passava de duas dezenas - e
sim a relação peso-potência.
À esquerda, o modelo
Midget, 1928.
Em seguida o MG TC, fabricado entre 1946 e 1950 já
com motor de 1.250 cc; notar a pequena mudança externa
entre ambos.
Vitórias
sobre vitórias
A maior
parte dos grandes volantes de competição fez
seu aprendizado em carros da marca MG. Um exemplo, Stirling
Moss, que conseguiu grande número de vitórias
pilotando-os. O próprio Tazio Nuvolari venceu o "Ulster
Tourist Trophy" de 1933 - prova de quase 800 quilômetros
- com um MG Magnette. O grande ás sentou-se pela primeira
vez num veículo desse tipo minutos antes da largada,
recebendo as instruções para dirigí-lo
apenas por sinais, pois não entendia inglês.
Atrapalhou-se com o seletor de marchas e, somente algumas
voltas depois de iniciada a competição, pôde
alcançar o acelerador ao fundo. Alguns metros depois
da chegada, seu MG parou por falta de gasolina...
Impossível
catalogar todas as vitórias esportivas do filho dileto
de Cecil Kimber: seu número é elevadíssimo.
O carrinho participava de competições de toda
espécie: velocidade, resistência, aceleração,
subidas de montanhas, tentativas de recordes etc.. Alguns
fanáticos chegaram a cortar ao meio o motor MG, para
- com apenas dois cilindros - competir (e vencer) em provas
de carros até 500 cc.
O valente
motorzinho de quatro cilindros e válvulas na cabeça
servia admiravelmente para excessos de todos os gêneros.
Podia-se competir com ele como saia de fábrica, ou
envenená-lo à vontade. Com ou sem compressor.
Enfim, pau para toda a obra. E seu dono - depois de competir
no domingo - ia trabalhar com o MG na segunda-feira.
MG TD, tentativa de atualização da marca, posto
à venda de 1951 a 53.
Vários
modelos, de 28 para cá
De 1928
para cá, diversificou-se bastante a produção
dos MGs. Todos, porém, derivados diretamente do protótipo
de Kimber. A coisa começou com uma série de
Ts: TA, TB, TC, TD e TF. Posteriormente, por volta de 1956
- a fábrica aerodinamizou seus veículos. Surgiram
o MG-A e, em seguida, o MG-B. No campo dos carros de turismo
existiram o Magna, o Magnette, o Sallon e o Tourer.
Fato notável:
o aficionado da marca nunca vê com bons olhos as modificações
introduzidas. Por exemplo, quando o modelo TD - em 1951 -
abandonou as rodas raiadas e os cubos rápidos, foi
uma gritaria geral. Os atuais modelos voltaram atrás.
Por esse motivo, a grade do radiador conservou-se inalterada
de 1928 a 1953 e, daí para frente, continuou com as
mesmas características, embora estilizadas. Recentemente,
a MG passou a produzir um modelo com apenas 1.100 cc, lembra
os primitivos Midgets e leva esse nome.
MG TF,
modelo um tanto aerodinamizado; notar os faróis incorporados.
O TF é dotado de motor de 1.500 cc.
Uso
e abuso: o MG resiste
Um carro
ruidoso pede para ser dirigido esportivamente, quanto mais
se for MG. Abusando-se das mudanças de marchas, utilizando-se
todas as rpm disponíveis e mesmo passando das 5.200
recomendadas, o MG é uma delícia. E mais: inquebrável.
Somente o poderá estragar se dirigir em marchas muito
desmultiplicadas e em baixas velocidades. Suas molas fariam
falir qualquer oficina especializada: jamais quebram. Mesmo
quando dez "play-boys" se abancam num MG.
Famoso
conjunto motor-câmbio do MG. De pequena evolução,
pois nasceu avançado.
MG
A, de linhas atuais. Sua evolução chegou ao
MG B que se vê em duas versões na foto abaixo.
Um
carro excepcional
O MG é
um carro excepcional, quando na mão do volante certo.
Deixa recordações felizes, ensina muitos truques
de bem dirigir e é relativamente fácil de ser
regulado pelo próprio dono. Não é o mais
bonito, nem o mais veloz; muito menos o mais caro dos carros
esportivos. Mas, numa coisa ganha fácil: é o
mais querido deles todos.
Imagem feita durante o Encontro Paulista de Veículos
Antigos em Águas de Lindóia, realizado em maio
de 2002.
|